Lista de exercícios extras - Fernando Pessoa - 2º ano a

Queridos, bom dia!
Seguem os exercícios extras sobre Fernando Pessoa. 
Por favor, leiam tudo com atenção e entreguem somente as justificativas (dia 10/05). 
Qualquer dúvida me avisem!

Retirado de: http://www.portuguescompartilhado.com.br

Fernando Pessoa: um inventor de almas 

O mais importante escritor modernista português foi Fernando Pessoa, famoso pela sua original capacidade de criar heterônimos, ou seja, de inventar “poetas” dotados de autenticidade e total independência. É como se o poeta se desdobrasse em vários outros. Esse desdobramento permite expressar diferentes maneiras de interpretar o mundo. 
A invenção da heteronímia pessoana constitui mais uma das manifestações artísticas que põem o passado abaixo e inaugura maneiras nunca imaginadas de criação artística. 
Leia um trecho de um poema de Alvaro de Campos, o heterônimo de Fernando Pessoa que representa o mundo moderno. 

[...] Maravilhosa vida marítima moderna, 
Toda limpeza, máquinas e saúde! 
Tudo tão bem arranjado, tão espontaneamente ajustado, 
Todas as peças das máquinas, todos os navios pelos mares, 
Todos os elementos da atividade comercial de exportação e importação 
Tão maravilhosamente combinando-se 
Que corre tudo como se fosse por leis naturais, 
Nenhuma coisa esbarrando com outra! 

Nada perdeu a poesia. E agora há a mais as máquinas 
Com a sua poesia também, e todo o novo gênero de vida 
Comercial, mundana, intelectual, sentimental, [...] 

Os portos cheios de vapores de muitas espécies! 
Pequenos, grandes, de várias cores, com várias disposições de vigias, 
De tão deliciosamente tantas companhias de navegação! [...] 

A mistura de gente a bordo dos navios de passageiros 
Dá-me o orgulho moderno de viver numa época onde é tão fácil 
Misturarem-se as raças, transporem-se os espaços, ver com facilidade todas as coisas,
E gozar a vida realizando um grande número de sonhos. [...] 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, pp. 332 - 33.

1. A que o eu lírico atribui a beleza extraordinária da vida marítima?

2. Pode-se afirmar que, de acordo com o eu lírico, os tempos modernos nada subtraíram da vida humana? Justifique sua resposta. 

3. O eu lírico manifesta uma visão muito positiva em relação aos prazeres oferecidos pelos tempos modernos? Justifique sua resposta com uma passagem do texto. 

4. De um lado, as opiniões do eu lírico são baseadas numa visão objetiva da realidade; de outro, algumas interpretações são produto de crenças divulgadas pelo Futurismo. 

a) Identifique uma percepção objetiva do eu lírico em relação à vida moderna. 
b) Identifique uma interpretação que pode ser considerada produto das ideias futuristas. 


Álvaro de Campos: um homem perturbado.

O processo de composição da heteronímia pessoana é tão sofisticado que inclui até mesmo a criação de biografia para esses seres inventados. Álvaro de Campos, o poeta-engenheiro, é descrito como um tipo moderno de judeu português, alto, elegante, acostumado com o ritmo das grandes cidades europeias. Formou-se em Engenharia Naval, em Glasgow, e escreve quando está inativo em Portugal. Participou do lançamento da revista Orpheu com o poema Opiário. Álvaro de Campos, como cada um dos heterônimos, é completamente diferente do criador Fernando Pessoa e apresenta uma visão particular sobre a realidade. 
É um homem perturbado que exteriorizou um dos mais significativos paradoxos da vida do século XX: a crença desmedida e a desilusão com o progresso científico e tecnológico. Por isso, tratou em seus versos da euforia e da depressão, da fé na ciência e da descrença numa vida equilibrada; cantou a vida frenética das multidões e o vazio da solidão; em síntese, soube identificar contradições experimentadas pelo homem de seu tempo.


Leia uns versos em que Álvaro de Campos confessa intenso sofrimento. 

[...] Estou só, só como ninguém ainda esteve, 
Oco dentro de mim, sem depois nem antes. 
Parece que passam sem ver-me os instantes, 
Mas passam sem que o seu passo seja leve. 

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li. 
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir. 
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir 
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi. 

Não ser nada, ser uma figura de romance, 
Sem vida, sem morte material, uma ideia, 
Qualquer coisa que nada tomasse útil ou feia, 
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe. 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 356


5. Na segunda estrofe, o poeta declara a derrota de suas tentativas de aliviar a dor, antes mesmo de realizá-las. Essa atitude revela a: 

a) profunda descrença em si mesmo. 
b) certeza de que não há consolo para sua dor. 
c) real intenção de entregar-se ao sofrimento. 

6. A linguagem de Álvaro de Campos é marcada comumente por figuras de linguagem que traduzem intensamente os sentimentos do poeta. Identifique a figura de linguagem que caracteriza a construção dos seguintes versos: 

a) "Estou só, só como ninguém ainda esteve" 
b) "O sonho pesa-me antes de o ter." 


Abaixo as ilusões 

A perturbação, em Álvaro de Campos, não provoca a inconsciência, a perda da lucidez. Ao contrário, é um poeta que analisa agudamente tanto o mundo como a si mesmo. 
O resultado dessa análise é a percepção do quanto ele se distingue dos demais seres humanos.

Leia alguns versos de Tabacaria, de Álvaro de Campos, em que o eu lírico, olhando de uma janela, e vendo o movimento de carros e pessoas numa rua, repara especialmente numa tabacaria. Nela entra e sai muita gente e, seguindo o que acontece nesse cenário, o eu lírico entrega-se a reflexões. 


[...] Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? 
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! 
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! 
Gênio? Neste momento 
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, 
E a história não marcará, quem sabe?, nem um, 
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. [...] 

Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama; 
Mas acordamos e ele é opaco, 
Levantamo-nos e ele é alheio, 
Saímos de casa e ele é a terra inteira, 
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. 

(Come chocolates, pequena: 
Come chocolates! 
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. 
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. 
Come, pequena suja, come! 
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! 
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, 
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) [...] 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, pp. 363-364. 


7. O eu lírico acredita que suas reflexões são comuns a todos seres humanos. Que reflexões são essas, apresentadas nos sete primeiros versos transcritos? 

8. O poema estabelece oposição entre "Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama" e "Mas acordamos e ele é opaco". Essa oposição pode ser entendida como contraste entre: 

a) o mundo plenamente compreensível e o mundo confuso dos sonhos. 
b) a pretensão humana de compreensão do mundo e a constatação de que esse desejo é mera ilusão. 
c) a capacidade de realizar sonhos e a constatação de que esses sonhos realizados não satisfazem.

9. Numa atmosfera de incertezas e frustrações, o eu lírico se depara com uma criança e dirige-se a ela de modo exclamativo; "(Come chocolates, pequena: / Come chocolates!". Com essas frases, o eu lírico incentiva a criança a: 

a) desfrutar prazeres de maneira espontânea. 
b) fugir dos problemas que ela já conhece. 
c) desprezar as pessoas que sofrem com desilusões da existência. 
d) encarar a vida de maneira irresponsável. 

10. O eu lírico declara: "Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria" e "Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates". Nessas frases, o eu lírico refere-se a duas maneiras de explicar a realidade. 

a) Quais são elas?   
b) O eu lírico acredita na validade dessas explicações? 

11. Ainda dirigindo-se à criança, o eu lírico lamenta-se: "Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!". Por que o eu lírico é incapaz de agir como a criança? 
O melhor é não pensar! 

Ao contrário do espírito de Álvaro de Campos, sempre agitado pelo prazer ou pela dor de existir, Fernando Pessoa cria o heterônimo Alberto Caeiro. Trata-se de um camponês de olhos azuis, queimado de sol, de quase nenhuma cultura, de alma livre, que propõe a observação atenta e cuidadosa da realidade tal como se apresenta em cada instante. Seus poemas do livro O guardador de rebanhos enfatizam a necessidade de o homem voltar-se para a natureza e cumprir calmamente seu destino . 

Alberto Caeiro, embora seja contrário a toda filosofia ou religião, elaborou um método original de viver e pôr fim às angústias humanas: a anulação do pensamento. De acordo com o poeta, o pensamento deturpa a realidade, produzindo enganos e somente os sentidos, livres de interpretações mentais, nos põem em verdadeiro contato com a natureza. 

Leia um poema de O guardador de rebanhos, em que o eu lírico apresenta suas ideias. 

O meu olhar é nítido como um girassol. 
Tenho o costume de andar pelas estradas 
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de vez em quando olhando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito bem... 
Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do Mundo... 

Creio no mundo como num malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender... 
O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... 

Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar... 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, pp. 204-205. 


12. O eu lírico afirma que anda pelas estradas sempre olhando atentamente em todas as direções. 

a) O que esse olhar cuidadoso oferece a ele? 
b) Transcreva dois versos consecutivos que justifiquem a resposta dada ao item anterior. 

13. Para expressar as intensas sensações que experimenta com seu olhar rigorosamente concentrado no que vê, o eu lírico estabelece uma comparação. 

a) Que comparação é essa?
b) A comparação presente no poema é surpreendente e sugere emoções em estado puro, que não são retidas pela memória. Dessa maneira, essa comparação reforça que ideia? 

Os sentidos decifram o mundo 

Com a afirmação "Pensar é estar doente dos olhos" Alberto Caeiro reafirma a tese de que as interpretações de todo o tipo, por criarem imagens, simulações da realidade, distanciam o homem da natureza e o tornam infeliz. O poeta aconselha que abandonemos a civilização e retornemos a uma espécie de "paraíso perdido", quando o homem estabelecia contato direto com a natureza, sem representar suas experiências por sons, desenhos, palavras ou pensamentos. 
Para conhecer melhor as teses de Alberto Caeiro, leia os versos a seguir. 

O que nós vemos das cousas são as cousas. 
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra? 
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos 
Se ver e ouvir são ver e ouvir? 

O essencial é saber ver, 
Saber ver sem estar a pensar, 
Saber ver quando se vê, 
E nem pensar quando se vê 
Nem ver quando se pensa. 

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!), 
Isso exige um estudo profundo, 
Uma aprendizagem de desaprender [...] 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 217. 


14. A segunda estrofe responde às perguntas que iniciam o poema. Que ideia essa resposta enfatiza? 

15. Na terceira estrofe, o eu lírico utiliza uma metáfora para explicar por que é difícil que o ser humano consiga "ver sem estar a pensar". 

a) Que metáfora é essa?  
b) Esclareça o sentido dessa metáfora. 

Para responder à questão 16, leia o poema a seguir. 

Olá, guardador de rebanhos, 
Aí à beira da estrada, 
Que te diz o vento que passa? 

Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?

Muita causa mais do que isso. 
Fala-me de muitas outras cousas. 
De memórias e de saudades 
E de causas que nunca foram. 

Nunca ouviste passar o vento. 
O vento só fala do vento. 
O que lhe ouviste foi mentira, 
E a mentira está em ti. 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 213. 

16. Por meio de uma conversa, o eu lírico, na figura de "guardador de rebanhos", julga que a interpretação de seu interlocutor é equivocada. Explique em que consiste esse equívoco. 
Leia os versos transcritos a seguir para responder à questão 17.   

O luar através dos altos ramos, 
Dizem os poetas todos que ele é mais 
Que o luar através dos altos ramos. 

Mas para mim, que não sei o que penso, 
O que o luar através dos altos ramos 
E, além de ser 
O luar através dos altos ramos, 
É não ser mais 
Que o luar através dos altos ramos. 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 222. 

17. Explique qual a função da repetição insistente, presente nesses versos. 

O caminho do meio é mais seguro 

Ricardo Reis, outro heterônimo inventado por Fernando Pessoa, é médico, defensor da monarquia e mudou-se para o Brasil quando Portugal se tornou uma República. É amante da literatura clássica, não apenas lê, mas esforça-se por colocar em prática principalmente os ensinamentos de Horácio, Platão e Epicuro. Cultua os deuses da Antiguidade e aceita as lições de vida do Cristianismo. Como se percebe, esse heterônimo não é radical, busca inspiração nos ensinamentos pagãos e cristãos, porque lhe interessa encontrar respostas sensatas e equilibradas para suas reflexões. 

A poesia de Ricardo Reis assume um tom solene, sério, que mostra o comedimento das emoções, sempre analisadas com a frieza de raciocínio. Não há derramamentos emocionais, ao contrário do que ocorre na poesia de Álvaro de Campos. Ricardo Reis identifica-se em parte com a tranquilidade de Alberto Caeiro, mas não chega a ser tão drástico a ponto de sugerir a anulação do pensamento. Evita as atitudes exageradas, os sentimentos extremos, adotando o pensamento aristotélico de que a virtude está no equilíbrio, na moderação. Tentando descobrir a justa medida para as suas sensações, Ricardo Reis produz uma poesia plena de ensinamentos, que lembra em parte os textos do Arcadismo.

Leia os versos de Ricardo Reis em que o poeta se dirige a sua amada, Lídia. 

[...] Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. 
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos 
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. 
(Enlacemos as mãos.) 

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida 
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, 
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, 
Mais longe que os deuses. 

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. 
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. 
Mais vale saber passar silenciosamente [...]. 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: ova Aguilar, 1986, p. 256. 

18. O eu lírico trata o tema da passagem do tempo de maneira: 

a) atormentada, pois sabe que nada resiste a sua ação. 
b) apreensiva, porque tem urgência de usufruir dos prazeres terrenos. 
c) resignada, já que aceita a impossibilidade humana de interferir no fluir do tempo. 

19. Como quase tudo que escreveu Ricardo Reis, esses versos encerram um aconselhamento para melhor aproveitar a vida. 

a) O que o eu lírico aconselha? 
b) Justifique a resposta dada ao item anterior com uma passagem do texto. 
 
20. Estes versos de Ricardo Reis têm tom professoral, já que encerram aconselhamentos. Identifique ao menos dois conselhos presentes nestes trechos. 

Trecho I 

[...] Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. 
Não florescem no inverno os arvoredos, 
Nem pela primavera 
Têm branco frio os campos. [...] 

Fernando Pessoa. In Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguílar, 1986, p. 260. 

Trecho II

[...] Segue o teu destino, 
Rega as tuas plantas, 
Ama as tuas rosas. 
O resto é a sombra 
De árvores alheias. [...] 

Fernando Pessoa. Idem, p. 270. 

Trecho III

[...] Para ser grande, sê inteiro: nada 
Teu exagera ou exclui. 
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és 
No mínimo que fazes. [...] 

Fernando Pessoa. Idem, p. 289. 



O novo poeta da pátria portuguesa 

Os vários heterônimos de Fernando Pessoa, com suas visões particulares, refletem múltiplas possibilidades de compreender o mundo e mostram a complexidade do espírito humano. Os heterônimos podem ser entendidos como faces da personalidade de Fernando Pessoa, que se misturam, se contradizem e dão fim à ideia de que pudéssemos ser um bloco monolítico, uniforme, coeso, harmônico, decifrável. 
O criador dessas almas tão diferentes entre si também assinou uma importante obra como Fernando Pessoa. Trata-se de Mensagem, longo poema de saudação à pátria portuguesa. Esse poema épico moderno é dividido em três partes: "O brasão""Mar português" e "O encoberto". Na primeira, inspirado nas partes que compõem o brasão da nobreza portuguesa, o poeta conta a formação do Estado português; a segunda parte é dedicada à conquista do mar; e a terceira trata do declínio da nação e da previsão do renascimento da grandeza lusitana. 
A obra Mensagem, publicada em 1934, foi escrita durante 21 anos. É com esse cuidado extremado que Fernando Pessoa trata da história e do espírito de Portugal, estabelecendo algumas vezes diálogo com a maior epopeia lusitana, Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. 
Na segunda parte, por exemplo, alguns versos dialogam com o episódio "O velho do Restelo", de Os Lusíadas. Para aquele enérgico velho que assiste à partida das naus no século XV, não valiam a pena os sofrimentos causados por mortes, graves ferimentos e desaparecimento de centenas de portugueses que se arriscavam no mar. Entretanto, para Fernando Pessoa, todos os padecimentos foram recompensados pela dominação dos mares por Portugal, na época. 
Leia estes versos da segunda parte de Mensagem que fazem lembrar Os Lusíadas, de Camões. 

Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. 

Fernando Pessoa. In Obra poética (com atualização ortográfica) Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p.82

21. Explique o que pretende representar a imagem hiperbólica presente nos versos “Ó mar salgado, quando do teu sal / São lágrimas de Portugal!”? 

22. Na avaliação que o poeta faz a respeito da conquista dos mares, o saldo é positivo, como se lê em “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena”. De acordo com os versos da segunda estrofe, por eu se pode afirmar que os portugueses não têm alma? 

Para responder ás questões a seguir, leia os versos finais de Mensagem, em que Fernando Pessoa mais uma vez dialoga com Camões. 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser 
Este fulgor baço de terra
Que é Portugal a entristecer [...]

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é o mal nem o que é o bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora! [...]

Fernando Pessoa. In Obra poética (com atualização ortográfica) Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p.89.

23. Como o poeta caracteriza Portugal nos versos finais de Mensagem?

24. Identifique no texto uma metáfora, referente ao Portugal, e explique seu sentido simbólico.

25. Compare o verso final de Mensagem – “É a Hora” – aos versos de “O epílogo” de Os Lusíadas, transcritos a seguir. 

[...] No mais, Musa, no mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida, 
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida. 
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida 
No gosto da cobiça e na rudeza
De huã austera, apagada e vil tristeza. [...] 

Luís de Camões. Os Lusíadas. Porto: Porto Editora,p.335.

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